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terça-feira, 6 de setembro de 2011

"Calma. Você tem que ficar calma e confiar em mim."

Ok, Zero. Estou confiando. E posso dizer que "O Homem do Futuro" é uma bem sucedida tentativa de fazer ficção científica no Brasil. O filme não decepciona. Ok, não temos [de verdade] tecnologia de ponta; aqui as pesquisas científicas mais audaciosas não ganham um centavo da CAPES, CNPQ, e cia, mas temos imaginação. Esse é o nosso diferencial. E se não dá pra fazer um filme muito próximo da realidade, com teorias sérias e tudo o mais, então vamos pegar pesado na fantasia (em todos os sentidos), usar música chiclete como carro chefe da trilha sonora, e ter como líder nessa jornada o ator mais rentável do cinema brasileiro nos últimos anos (Capitão Nascimento que o diga...).

Wagner Moura é Zero, vulgo João, que em uma festa da faculdade, no dia 22 de novembro de 1991, passa a maior vergonha da sua vida. Ele não é somente abandonado pela mulher que ama (a ultra-gata-inteligente Helena - Alinne Moraes [não sou eu quem diz que ela é gata, é o filme que diz, ok?]), como é zoado pelo ex namorado da moça e humilhado em público, em cima do mesmo palco onde, horas antes, cantou animadamente com sua (então) namorada o clássico da Legião Urbana, "Tempo Perdido" (got?). Zero, então (como passa a ser conhecido após esse terrível episódio), cai em uma depressão profunda. 20 anos depois, ainda está só, morando em um quartinho, dando aula pra pessoas desinteressadas na mesma faculdade que estudou. Por sorte, sua ex colega e hoje sua chefe, Sandra (Maria Luisa Mendonça) ainda acredita em seu pontecial e financia sua mega pesquisa. O objetivo é descobrir uma nova fonte de energia. O resultado? O cara acaba voltando no tempo. (Sim, o fiofó não tem nada a ver com a calça, mas blz. Quantas vezes isso não acontece em pesquisas?)

Sem querer encher o post de spoilers (eu tô me segurando muitooooo!), vou parar a narração da trama por aqui. Vamos pra partes mais legais.

Primeiro, como o Brasil ainda não tem uma galera boa o suficiente (nem público) pra fazer um filme 100% ficção científica, entãoooooo... É claro que o "fator novela" conta. Logo, o filme é uma comédia romântica antes de qualquer coisa, com o fundo de ficção científica (uma pena! =/). Dessa forma, segura o público brazuca, que não está habituado a ver um filme, digamos, um pouco mais elaborado. (Não sei se esse fator foi essencial na hora da concepção do filme, ou se os escritores estão viciados nisso) O "fator novela" também deve ter sido importante na escolha da mocinha do filme (vamos combinar, a Alinne Moraes ainda não me convenceu...). O papel é fácil, nada que uma novela do Manoel Carlos já não tenha feito por ela. Falando nisso, ponto pro elenco, super conhecido da galera que vive assistindo novela.

Wagner Moura, Claudio Torres (diretor do filme) e Maria Luisa Mendonça (a eterna Buba, desculpem... rs...)

Agora, quem certamente se divertiu horrores foi um tal de Wagner Moura... Zero aparece em três momentos no filme. Quando é um universitário inseguro, quando é um professor deprimido (que depois se mostra ganancioso) e, por fim, o-cara-que-finalmente-entendeu-tudo. É claro que a parte mais divertida é quando eles se encontram. E aí vem a frase mais repetida de todo o filme, mas que tem tudo para se tornar um bordão daqueles tão famosos quanto os do Cap. Nascimento: "Calma. Você tem que ficar calmo (a) e confiar em mim". E cada vez que Zero/João diz pra alguém isso, a reação consegue ser mais engraçada do que a anterior. Os três são bem definidos, então a interpretação deve ter sido extremamente fácil pro ator, o que deve ter permitido um personagem mais relaxado, tranquilo (pra fazer, rs...). De boa? Acredito que foi a grana mais fácil da vida do Wagner Moura. E, sinceramente, o cara é uma fera. Já fez de tudo, e sempre com muita competência. Quem diria que um cara formado em Jornalismo iria se encontrar na atuação¹? 

"O Homem do Futuro" é muito divertido e tem piadas inteligentes (acima da média de pérolas como "Cilada.com"...). Outra coisa que me chamou a atenção foi o merchandising discreto durante o filme. A peça em questão fazia realmente parte do contexto da história (não é como a intevenção no filme "Muita Calma Nessa Hora" que enfiou, quase que do nada, uma propaganda de uma cadeia de restaurantes - lembrei da época dos filmes da Xuxa e dos Trapalhões... que coisa horrorosa...).

Outra coisa legal é a trilha sonora. Como o filme se passa na década de 90, então foi mole encontrar hits para rechear a história. Agora, foi um pouco de preguiça da galera que selecionou não explorar mais a trilha sonora da época. Ok, o filme vai e volta no tempo, então tem mais é que repetir mesmo. Mas poderia ter uma variedade maior especialmente nas cenas que não se repetem. Saí com "Tempo Perdido" tocando no repeat na minha cabeça... rs... Ah, uma coisa: ok, as versões das músicas cantadas por atores não são lá grandes coisas. Mas elas fazem parte de um contexto! No caso do clássico da Legião, era uma banda de universidade, impovisada, tocando em uma festa. Não dá pra esperar perfeição - falando nisso, a Alinne Moraes tem uma voz grave, né? Agora, não sei o que levou o Wagner Moura cantar "Creep", do Radiohead. De qualquer forma, serviu pra mostrar o fundo do poço que o personagem dele estava. E essa música, na minha humilde opinião, é de cortar os pulsos...


Enfim, "super recomendo" o filme que, até onde eu sei, já já vai alcançar a marca de 1 milhão de espectadores. Ok, o Brasil ainda não convence com ficção científica (e será que é pra "convencer" mesmo? Seguir legal o padrão do cinema americano?). Mas, filmes como "O Homem do Futuro" (ou até mesmo o "Mulher Invisível", também direção de Cláudio Torres, que não é ficção científica, mas também é uma viagem muito legal) são bons sinais. 

É um super bom sinal! :)



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¹Sem querer fugir do assunto, mas já fugindo... não sei o que o levou pra esse caminho, o processo e tal... taí uma coisa que eu perguntaria pra ele. Conheço pessoas que estão pensando seriamente em largar as profissões para qual estudaram, prestaram vestibular, concursos, e que se sentem extremamente felizes fazendo coisas que não tem a ver, necessariamente, com o que escolheram fazer inicialmente. Eu mesma sou um exemplo dessa oscilação entre algo seguro, determinado e uma coisa extremamente nova, porém super empolgante. Geralmente, vejam só, essa galera se interessa por algo dentro das artes. Sinal de que o nosso mundo, extremamente técnico, não faz ninguém feliz. Só nos falta a coragem. 

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