Dando pitacos!

Porque todo mundo tem algo a dizer sobre tudo. Só não somos convidados sempre...
E a estrela Intrometida existe mesmo!

sábado, 24 de setembro de 2011

"Filhos do paraíso"

Nunca fui muito com a cara de filmes "pra chorar": aqueles onde acontece tanta desgraça, mas tanta desgraça, que você só tem duas alternativas, a saber: ou chora junto ou começa a rir. (No meu caso, eu começo a rir). "Filhos do paraíso" ("Bacheha-Ye aseman", 1997) é um filme assim. Mas é um filme que vale a pena.
 
A história é a seguinte: num belo dia o menino Ali perde os sapatos de sua irmã, Zahra, recém saídos do sapateiro. Eles são de uma família muito pobre, não tem dinheiro nem pra pagar a conta da mercearia, o aluguel... E agora? Com que sapato a menina vai pra escola? Só tem uma solução, então: Ali vai ter que dividir o seu tênis com sua irmã.

Você pensa: ok, é uma premissa meio besta. Mas na verdade nós nos esquecemos de observar as coisas do ponto de vista das crianças. As meninas gostam de estar bem vestidas, sentem vergonha se não estão adequadas. O melhor exemplo é a cena em que Zahra está em uma fila para a aula de ginástica, sem graça por estar usando um tênis que é muito maior que seu pé, tentando esconder e respira aliviada logo depois, ao ouvir um elogio da professora, que disse que para ginástica é melhor usar tênis que sapato. Ao mesmo tempo, tem a correria pra dar o sapato ao irmão, que começa a chegar atrasado na escola... Mas Ali é um estudante esforçado e gentil: em um dos seus atrasos, o diretor o manda de volta pra casa e só voltar com os pais. Desesperado, porque realmente não é possível ter a participação dos pais na escola, Ali tenta argumentar (sempre pedindo licença para falar). Como o diretor está irredutível, vai caminhando para a porta... Daí encontra com seu professor. Como Ali é um ótimo aluno, seu professor conversa diretamente com o diretor e o menino consegue entrar. Sinal de que vale a pena ser bom. Outro sinal do bom caráter de Ali: como ele se sente culpado por ter perdido o sapato da irmã, ele dá um lápis novo para ela e, posteriormente, uma caneta que lhe foi dada como prêmio por uma boa nota. Assim, nessa troca, eles estreitam ainda mais seus laços.

Zarha e Ali lembrando que são crianças, apesar das dificuldades.

Os dois tentam resolver o problema juntos, mostrando uma união que não se vê em muitos irmãos por aí. Ok, o que os une nesse sentido é a possibilidade dos dois receberem uma punição pelo desaparecimento do sapato, mas é visível que os dois se dão muito bem. Não sei se é por conta da sociedade em que vivem... Ambos são prestativos e obedientes. A mãe sofre com uma hérnia de disco, o pai vive trabalhando, e ambos ajudam em casa (ao contrário de muita gente por aqui...) e são bons alunos.

E é aí que surge a melhor oportunidade para conseguir um sapato para Zahra: uma corrida. Mas Ali não deseja o primeiro lugar, ele quer o terceiro, justamente porque um dos prêmios é um par de sapatos. Bom, vou terminar a narração por aqui...

É um filme bem família, e que mostra alguns valores que estão um pouco fora de moda hoje em dia: certamente se a história fosse no ocidente, a menina faria das tripas coração para ter o sapato de volta, seja como for. Mas Zahra se mostra paciente - apesar de não gostar de ir com o tênis do irmão para a escola (e ela diz isso várias vezes), ela não entrega Ali. O filme também é legal para ver alguns costumes do Irã: o chá, o açúcar em cubos, a organização das casas, a própria organização social... Também preste atenção na simbologia da água: seja do esgoto, seja na brincadeira... a água tem uma participação bem especial nesse filme.

É, realmente, um belo filme.
Mas separe os lencinhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário