Dando pitacos!

Porque todo mundo tem algo a dizer sobre tudo. Só não somos convidados sempre...
E a estrela Intrometida existe mesmo!

quinta-feira, 26 de março de 2015

Divergente, Insurgente, Convergente... Detergente. E o Four, claro.

Nossa, tem 1 mês que não piso aqui... :/
Mas como decidi que em 2015 eu iria ser mais responsável com o blog (tento isso todo ano), então eu farei! Porque 2015 vai ser diferente!

Então, acabo de sair do cinema. Hoje assisti ao segundo filme, de quatro (got?), da "saga" Divergente, o tal "Insurgente". Em primeiro lugar, em minha defesa (ou não), tenho que confessar que já li todos os livros. Os quatro livros. E minha segunda confissão é: os livros são bem fracos. O primeiro então, o "Divergente", é o mais fraco em termos de construção do texto. É bem ruim mesmo. Sério. É um cartão de visitas tão ruim que uma amiga minha (que é professora de português, com mestrado na área de literatura) me contou que o livro tem o apelido de "Detergente", e eu, mesmo estando no terceiro na época, não me importei de adotar. Aí eu vivo chamando de "Detergente" também. 

Tô esperando o lançamento desse também...

Quando eu terminei de ler os três - cada um em uma semana (só não foi em menos tempo porque eu trabalho, estudo, leio outras coisas... rs) - eu comprei o ebook do primeiro livro, em inglês. Porque algo não pode ser tão ruim assim a ponto de ser tão fácil de ler no idioma original. E eu, com meu inglês intermediário (e vai ser assim por um bom tempo), li com o pé nas costas. Aí você pode dizer "ah, mas é infanto-juvenil"... ah, vtnc!, "Jogos Vorazes" também é e tem a sua dignidade, é melhor escrito (depois eu comento sobre ele...).

O problema da tal série "Divergente" é a qualidade de escrita da autora, Veronica Roth. Assim, todos os elementos que fazem uma boa história estão lá: o tema é bem bacana (uma distopia, assim como "Jogos Vorazes", o tema da vez - embora muitos tenham problemas com interpretação de texto e não conseguem enxergar seus elementos na vida real...), a protagonista é uma jovem mulher forte cheia de defeitos (e na maior parte do tempo, é uma adolescente chata - mas isso é problema da Tris mesmo, e não da autora), seu interesse romântico é muito interessante... (destaque para o "interesse romântico". Voltarei nisso depois) Mas, enfim, "Divergente" parece um trabalho de escola. Algumas coisas estão super bem feitas, outras muitas parecem jogadas. Muitas vezes tive a impressão que a Tris era um "samba de uma nota só"; muitos personagens são simplesmente jogados no texto, apresentados e desenvolvidos de uma maneira super rasa, e como todos os fatos se concentram na Tris - o livro é narrado em 1ª pessoa, odeio isso porque não me dá muita noção do todo e eu nem posso tirar minhas próprias conclusões, fico dependendo do que a personagem vai achar, pensar, ver e sentir - não dá pra você ir muito longe, quando esse recurso é mal feito (em "Jogos Vorazes" toda a atenção é na Katniss, mas como o primeiro e o segundo livros são desenvolvidos em "ambientes seguros", com poucos personagens principais, e cada um tinha seu momento... como disse, é preciso saber fazer).

Mas aí apareceu o Quatro. Aaaaaaaaah, o Four. Sempre tive a impressão de que esse personagem era grande demais pra aquilo que ele servia nos três livros. Não deu outra. Ele não só era muito grande [got?] como a mesma Veronica Roth já disse que a história começou por ele! E realmente, como demonstra "Quatro", o livro, esse personagem nos é apresentado sem a correria dos divergentes, então podemos entrar um pouquinho mais no mundo dele. Não é o bastante, mas é um desenvolvimento muito melhor que qualquer outro personagem que aparece nos três livros seguintes! Melhor que até a própria Tris! Isto é, faltou construir um background consistente para todos os personagens principais. Senti falta nisso em relação ao Peter, por exemplo. Esse aparece como um cara que faz bullying, até aí ok, mas quando chegamos ao final da história e ele pede pra tomar o tal soro que faz "quase tudo voltar ao zero", ele joga uma questão que me botou pra pensar: será que o fato dele ser assim, violento, implicante e maldoso (porque ele é "mau feito pica-pau") é dele mesmo? E isso é importante porque faz referência ao motivo da criação do sistema de facções. O soro foi uma chance pra ele recomeçar! Roth perdeu uma grande chance de desenvolver um personagem um pouco mais complexo. Seria lindo se, ao longo dos livros, houvesse uma parte dedicada ao Peter, para conseguir entendê-lo um pouco melhor, ou mergulhar no seu lado negro de vez. Outro personagem que também não diz muito a que veio: Marcus. E nisso aí, até o "Quatro", o livro, falha. Ele era um cara violento, ok. Mas extremamente importante dentro do contexto político da Abnegação. Por quê? Não sei! Não queria ver uma discussão a respeito da "origem da maldade humana", mas se o cara tem uma vida dupla, qual o sentido disso isso sendo um homem público? Ele sentia prazer em bater no Tobias e na Evelyn? Ele se sentia sujo? Era pra tornar evidente a ironia: "nossa, ele é um homem da Abnegação, mas não tem nada de Abnegação em casa"? Se for isso, essa é a forma mais estúpida de mostrar. Porque pra isso, já existem os Divergentes que vivem escondidos dentro do sistema de facções. Passei um bom tempo esperando esse personagem explodir, mas essa explosão nunca acontece. As outras facções também são problemáticas. Não precisaria descrever a Franqueza, por exemplo, com a mesma exatidão de detalhes da Abnegação e Audácia, uma vez que a participação deles é pequena dentro do contexto maior, mas quando você tem um background bem construído, isso pode se refletir nas atitudes dos personagens. A Christina é só faladeira? Ok, ela muda BEM depois da morte do Will. Mas isso também poderia servir pra que a Christina mostrasse um pouco mais do "que é ser da Franqueza" pra gente - vamos lembrar que a história toda dos três livros da série não se passa nem em um ano (acho que nem em 6 meses), é tudo muito rápido, então eles não deveriam abandonar completamente, de uma hora pra outra, as características que ajudaram a formar seu caráter. Na verdade, o critério do sistema de facções é o de análise de caráter. Você pode querer mudar, e pra isso existe a Cerimônia de Escolha, mas tem coisas que geram ações típicas de sua facção de origem, assim como a Tris toma decisões comuns de alguém da Abnegação mesmo sendo Divergente, e isso é perdoável (afinal, me diz se o final dela não é o esperado pra alguém da Abnegação?). 

(Spoiler: ela morre tentando justamente impedir que as lembranças de todos que viveram dentro do sistema de facções sejam apagadas, e com isso impede o desaparecimento da própria história do sistema. O detalhe: quem deveria fazer isso era o Caleb, mas a Tris faz em seu lugar por escolha própria, achando que sua resistência aos soros iria lhe dar uma chance de sobrevivência. Apesar disso, ela sabe que vai dar merda, então se despede de Caleb e pede pra ele enviar uma mensagem ao Quatro.) 

E é em "Convergente", quando Tris divide a narração com Quatro (finalmente outro ponto de vista! uhuuuu!), que podemos vê-lo crescer. Ele deixa de ser apenas o interesse romântico da moça - esse caminho já começa em "Insurgente" na verdade. Ele erra, aprende, acha que tá fazendo certo, se engana, se junta com uma galera estranha porque, afinal de contas, ele quer se encaixar, saber quem são os seus iguais, já que ele não é mais quem ele pensa ser. (Mesmo sendo sempre a mesma pessoa) O seu amor pela Tris só faz aumentar a medida que o grau das merdas que ela faz aumenta também, pro meu azar, e por causa disso ele sofre. Deeeeeeeeeeus, como ele sofre. E ele precisa lidar com muitas perdas ao mesmo tempo, especialmente no final. Quem tiver saco pra ler "Convergente" vai se encantar pelo Quatro. Veja bem, a Tris não perde esse posto de protagonista porque acontece aquilo com ela ao final. O Quatro toma esse posto dela uma vez que ele é o único que cresce com todos aqueles acontecimentos, toma iniciativas muitas vezes conflitantes por amor (em vários momentos eu ouvia uma voz na minha cabeça dizendo: "Tris, por favor, para de tentar morrer porque você vai fazer o Quatro sofrer..."), a sua mãe e seu pai são peças interessantes dentro da questão da manutenção ou dissolução do sistema de facções, é ele quem conhece as pessoas importantes dessa fase da história (como seu ex instrutor, o Amah - o cara que ajudou Tobias a se tornar Quatro!)... a chave da trama está em Tobias! Aí conta toda a base criada para o personagem. O final da história gira em torno dele, literalmente.

Aí a fofa Roth vai e lança o "Quatro". Ferrou. Fico mais encantada por ele. As histórias giram justamente na fase de transição de Tobias para Quatro. Temos o início da jogada da Erudição, que vai resultar em "Divergente". A rivalidade com o Eric - história muito boa, por sinal! Quatro bêbado e de ressaca. E o encontro dele com sua mãe. Se Veronica Roth tivesse se empenhado nos outros personagens principais e no próprio sistema de facções como se empenhou no Quatro, a série "Divergente" seria muito, muito melhor. Bom, diz a lenda que ela está trabalhando em um outro conjunto de livros. Vamos ver se ela melhorou, se ouviu as dicas dos coleguinhas... rs...

Enquanto isso, vamos ver a história sendo melhorada nos cinemas. (Theo James é um Tobias/Quatro lindinho, não acham?)

Um beijo do Quatro pra vocês