A Onda (Die Welle)

De vez em quando é ótimo usar algum recurso audiovisual em sala de aula só pra quebrar o climão que fica com muitas aulas no "cuspe-e-giz", e também pra ajudar introduzir muitos assuntos. Um belo dia achei que seria bacana passar o filme "A Onda".

Acredito que, depois de assistir, quem é professor passa a gostar muito do filme. Quem é aluno também. Lançado em 2008, o longa alemão “A Onda” é obrigatório para todos os professores de Filosofia, História e Sociologia. Pra quem não sabe a sinopse, é o seguinte: Rainer, um professor anarquista, se vê obrigado em dar aula sobre autocracia durante uma semana (assunto que ele não queria trabalhar). Como o carisma dele entre os alunos é grande, a aula tem muitos inscritos. E é evidente também que logo na primeira aula a questão do nazismo apareça (afinal de contas...). É aí que um aluno jura de pé junto que não é possível haver outra ditadura na Alemanha. (Hummmm... será???) A partir disto, Rainer tem a idéia de realizar uma experiência que é a seguinte: durante as aulas eles colocariam em prática todas as características de um regime autoritário, como se fosse um “live-action”. A começar pela arrumação dos lugares na sala e no tratamento com o professor. Se algum aluno quiser falar alguma coisa, deverá ficar de pé e chamá-lo de “Senhor Wenger”. E daí eles vão evoluindo, acrescentando mais características, e os alunos vão... se empolgando! Sim, as coisas saem do controle. E quando Rainer (ou será o Senhor Wenger?) finalmente percebe...

Passei esse filme pra algumas turmas de 3º ano. O debate foi muito bom! Ele pode ter várias orientações, desde a discussão sobre política e as idéias de democracia e ditadura (lembrando que, no filme, Rainer é escolhido – esse é um detalhe importante – para ser líder\ mentor do que depois seria “A Onda”). Tem o drama de Tim, aluno chave pra compreender o desfecho trágico (desculpe se pareceu spolier, mas se você virar a caixa do dvd vai ler “... baseado em uma história real... desastre que aconteceu na Califónia...” aí quando você lê “desastre”, “escola” e “E.U.A.” tudo na mesma frase... Pra bom entendedor, meia palavra basta.), e aí você pode falar sobre psicologia, sociedade... Em uma turma o debate foi beeeeeeeem quente: lá pelas tantas perguntei se o professor seria o culpado por tudo o que aconteceu, e a turma se mostrou super dividida. Uns diziam que os alunos foram induzidos, outros diziam que o que acontece fora de sala de aula não é de responsabilidade do professor; outros compararam as atitudes dos alunos com as de muitos torcedores fanáticos...

Outro ponto interessante de abordagem de discussão é partir da ideia de "massa" (daí pra "Dialética do Esclarecimento" é um pulo). Rainer é um cara super carismático, o professor que não é tradicional (e isso conta pontos com os alunos): perfeito pra liderar qualquer coisa. A satisfação deles em obedecer também é incrivel! Mas poucos alunos (na verdade, só uma aluna que percebe de cara que a coisa não vai dar num lugar bom e desiste da matéria - mas ela demora muito pra agir) se colocam contra Rainer: os bagunceiros (que depois que A Onda cresce, entram nela) e Karo, namorada do jogador de pólo aquático Marco, que sofre a discriminação por não vestir o uniforme do grupo - aí entra a questão da individualidade. 

O filme começa meio lento, pra dar tempo de apresentar todos os personagens principais e suas particularidades (é muito interessante, por exemplo, acompanhar a relação de Rainer com sua esposa, Anke, para perceber a mudança depois). Porém, a cena mais assustadoramente bonita é a da imagem acima: naquele momento o Senhor Wenger começa um discurso. Recomendo assistir no idioma original (se você já assistiu "Triunfo da Vontade" sabe a importância de uma boa cena de discurso e entende do que eu tô falando. E, sim, você vai lembrar exatamente disso).    

Pra saber tudo aquilo que o filme pode oferecer, só vendo mesmo (e mais de uma vez, como um aluno meu teve a audácia de fazer! – passei o filme em 2 dias, porque não dava pra ver tudo, e aí, depois do primeiro dia, o apressadinho chegou em casa e baixou tudo... rs...), e aqui há um aperitivo: http://www.youtube.com/watch?v=ZbyCJEIRBaA.

 

Elenco:

Jürgen Vogel (Rainer Wenger)
Frederick Lau(Tim Stoltefuss)
Max Riemelt (Marco)
Jennifer Ulrich (Karo)
Christiane Paul (Anke Wenger)

E muitos outros…   

Depois isso, e aproveitando o período eleitoral brasileiro, lanço a pergunta: e aí? Você também acha que é impossível haver outra ditadura no Brasil?