Dando pitacos!

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domingo, 31 de outubro de 2010

O que me deu nos nervos durante o processo eleitoral 2010

No momento em que escrevo este post o período de votação está finalmente terminando. Isso significa que vai parar a encheção de saco diária de propaganda – via rádio, tv e Internet – e também vai parar tudo aquilo que vinha junto com a propaganda, como pesquisas, troca da farpas, etc, e, principalmente, a cara-de-pau da imprensa (que nunca foi tão parcial quanto agora – nada contra a parcialidade, mas parcialidade disfarçada de imparcialidade não rola). Este é um ótimo momento pra eu, finalmente, falar tudo aquilo que me incomodou nessa eleição!

1) Voto obrigatório não dá (não com o argumento da “festa da democracia”).

Não que eu duvide do poder do voto. Mas está cada vez mais evidente a associação do mesmo com “aquele-período-chato-em-que-somos-obrigados-a-perder-tempo”. Não há sentido aparecer pra votar (porque “democracia” se resumiu a isso) se todos os candidatos são iguais, corruptos, etc, etc? E outra, se democracia é escolha, então por que sou obrigada a comparecer? Não posso escolher não votar?

Pois é, minha geração pensa assim. Como já disse no Twitter, não há sentido votar se você não viveu a falta do voto, ou melhor falando, a falta da voz. E pra valorizar isso não dá pra dizer “olha, vamos todos passar por isso novamente pra vocês darem valor ao processo eleitoral, ok?” A geração seguinte foi a geração dos (manipulados) caras-pintadas. Movimento de classe média, ok. Mas se for pra comparar com a mobilização da atual classe média... aff! Precisa haver uma forma, segura é claro, de fazer surgir um interesse que nunca foi real (porque o que aconteceu nessa eleição não é o suficiente para provar que a juventude realmente fará alguma diferença ou não). Enfim, não há muito sentido, não pra massa, participar da “festa da democracia”. Afinal de contas, democracia tem a ver com escolha, e ser obrigado a participar de um processo... Por conta dessa dificuldade, surgiu algo que eu odiei, e vai pro segundo item...

2) O voto nulo não é considerado sério de verdade. Não pela massa.

Nada contra com a vontade de “protestar” durante o pleito. Já debati no FB com uma menina q nunca vi q defendia de pé junto o “poder do voto nulo” contra a corrupção, sujeira, etc, etc, “... e eu tenho o direeeeeeeito!” (imagino a menina com o dedo apontado pra cima – hihihi). Mas, de boa, se você não for anarquista – que vota nulo porque REALMENTE não acredita em um poder autoritário – o voto nulo não passa de um chilique. Veja bem, o anarquista é contra o sistema e quem vota nulo como “protesto” (tá em aspas porque essa é a justificativa mais comum dos despolitizados) não está contra um sistema, e sim contra algumas pessoas naquele momento. Isso significa que o candidato que a pessoa votou não levou no primeiro turno e por isso o eleitor ficou revoltadinho. Algo do tipo “não quero brincar mais! Hunf!” Mas esses fulanos esquecem que independente do chilique momentâneo (porque geralmente essa galera só se interessa por política em 2 e 2 anos) SEMPRE vai entrar alguém (nesse caso eu concordo em parte com os argumentos da matéria sobre o voto nulo da Revista Superinteressante). E mais: acham que é possível, viável, articular um novo processo eleitoral, do nada? Acham que os partidos CONSIDERAM isso? Ainda mais em um país enorme como Brasil? As pessoas que votam nulo meio que ignoram essa parte.

Por isso acredito que o voto nulo deveria se encarado com mais seriedade do que é encarado hoje: se quer fazer valer o seu direito de abstenção, não basta só votar nulo, tem que agüentar e justificar sua decisão pelos próximos 4 anos. O anarquista vai sempre se abster do voto porque realmente não quer ninguém no poder (isso É voto de protesto), independente do partido ou da ideologia do mesmo. Ponto. Mas quem vota nulo porque ficou chateado com o primeiro turno, por exemplo, ou porque não quer votar por motivos diversos, acaba engrossando um caldo que pode derramar inclusive em si mesmo. A idéia aqui não é dizer “você é obrigado a escolher entre um ou outro”. A minha defesa é: “se é pra votar nulo, então que tenha consciência disso”. Não venha com a falsa ilusão de que “se todo mundo votar nulo a eleição será impugnada”, porque isso não vai acontecer. Sério.

3) Militância virtual superestimada 

Nada me irritou mais nesse processo eleitoral do que a militância virtual. Foi um saco: MSN, Twitter, Facebook e até Orkut mandando diariamente mensagens, boatos, etc, etc. Até aí, normal. É um veículo de informação tão eficaz quanto a tv. Só que ela é eficaz paca no Sudeste. Às vezes as pessoas esquecem que o grosso do Brasil está fora, logo há um país inteiro com mais desigualdades! E como o jornal faz questão de lembrar de tempos em tempos, o acesso à Internet no Brasil tá crescendo, mas é viagem acreditar que ela realmente tem o poder de decidir alguma coisa, ou que ela faz muita diferença. A televisão ainda é o veículo de maior alcance, embora exista o esforço de aumentar o acesso à banda larga.

Na campanha Obama a Internet só foi a grande estrela porque o acesso dos norte americanos é infinitamente maior (e banda larga entra no meio), o que fez a militância ter mais resultado. Por isso, criou-se uma equipe especializada nessa plataforma que se desdobrou pra criar fórmulas diferentes de propaganda. Aqui, seu uso ainda é precário: não é uma extensão da campanha, mas é um veículo pra repetição da mesma estratégia usada na tv e ainda por cima abusam de banners virtuais. Os candidatos aprenderam outro dia a usar o marketing. Acho que vai demorar um pouco pra usar melhor a Internet.

4) Virou moda falar de política

Entre a classe média criou-se um boom: todo mundo virou entendido de política. Só tem um problema (que eu já apontei no primeiro ponto): não há vivência. Duvido que saibam a importância de uma greve, de uma assembléia; não devem participar nem de reunião de condomínio! “Movimento Social? O que é isso? É do MST, né?” Enfim, nas oportunidades de participação política – que não é só eleição – esse povo corre feito diabo da cruz. A droga é agüentar essa galera que vê 3 debates durante o período eleitoral e acha que entende de 4 anos de governo. Não dá pra ser modinha: política precisa de acompanhamento, e é um acompanhamento tão próximo quanto a de um ginecologista. E, como moda, daqui a pouco ela passa.

E aí? Vocês concordam com isso? Bora parar com esse medo de discutir sobre política!


*Este post terminou com a notícia de que, segundo a pesquisa Boca de Urna, a candidata Dilma Rousseff será presidente do Brasil. 

2 comentários:

  1. Você Furiosa fica incrível. Gosto do que leio.

    1. Concordo e acrescento o viés dominador do voto obrigatório. Falei um pouco sobre isso no meu post "10 motivos para anular seu voto: 7-Voto (...) ferramenta de controle..." http://filosofiaputrefata.blogspot.com/2010/08/10-motivos-para-anular-seu-voto.html

    2. Sobre o voto nulo, acho que ele é mais complexo que isso. Ser anarquista não é condicionente. Dependendo da conjuntura determinados movimentos/partidos/etc defendem a anulação. Setores do PSOL, o PSTU, setores do MST, a FIST, o comunistas apartidários e o MTD-Pela base defenderam o voto nulo no segundo turno por não ver expresso nos candidatos potencial anti-capitalista.

    Também colocaria que @s anarquistas (principalmente os anarco-comunistas) defendem a política como prática diária e o Estado como fonte de alienação de direitos políticos. Não é, olhando de uma forma mais densa, uma questão de quem detém o poder (até porque tod@s detém poder).

    3. TAMBÉM ODIEI!!! AAAAAAAAAARGH!!! CHEGA DE TWEETS PROPAGANDEANDO LEGENDAS!!! SACO! SACO! SACO! Me senti contemplado por seu post!

    4. Aí já discordo de você. Apesar de me incomodar com a lavada de senso comum propagado por aí, ver política na pauta das discuções cotidianas é do caralho! Temos agora é que fomentar debate e potencializar a crítica. -;)=

    Beijo, lindona!

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  2. Em primeiro lugar quero dizer que adorei o "Você Furiosa fica incrível." :)

    Ok, vamos lá. Sobre os pontos em que discordamos:

    Sobre o voto nulo, sei que às vezes alguns partidos optam por ele, só que sabemos tb (quem vê a prática diária de alguns partidos sabe que é assim mesmo) que o grande problema não é ideológico e sim a disputa de cargos. Isso não contempla todos os exemplos que você deu, certo. Mas, convenhamos, se um partido lança um candidato, uma representação, no primeiro turno, e não demonstra apoio por ninguém no segundo, me parece que algo na "negociação" saiu errado. Qndo dei o exemplo do anarquismo foi porque me pareceu que é uma posição mais firme e não condicionada ao jogo "democrático". Geralmente os movimentos sociais também seguem essa linha, como foi bem lembrado por você. Mas o meu problema (e o foco dessa crítica) foi com o povão mesmo, o senso comum, e essa fixação de que o voto nulo vai servir pra "trocar os candidatos". Como se o problema estivesse nas pessoas, e não nos partidos e no sistema como um todo. Isso me irritou profundamente. E aí foi uma chuva de pessoas dizendo q vão votar nulo - e boa parte das pessoas eram eleitores da Marina (como se a prática dela fosse diferente no PV ou PT). E aí o argumento usado foi "a corrupção, os roubos... blablabla..." De boa, isso não é voto de protesto. Ficou melhor a minha posição? Você concorda com isso?

    Sobre o último ponto, o problema da "política como moda" é que a moda é super passageira. Não sei se eu acho legal ver um pseudo-interesse em uma coisa q é tão séria e q interfere na vida diária. Mas vc tem razão qndo diz q é uma boa oportunidade pra "potencializar a crítica". Às vezes surge da modinha boas surpresas. Mas enquanto isso não acontece, ñ tem como ñ se irritar com "entendidos de boteco"...

    Enfim, brigada pelos comentários! Quero trocar mais ideias assim com vc! :)

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