Dando pitacos!

Porque todo mundo tem algo a dizer sobre tudo. Só não somos convidados sempre...
E a estrela Intrometida existe mesmo!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

É pra rir?


Pessoas!
Primeiro, peço perdão pelo sumiço. Final de semestre é barra, fica difícil pensar em algo, a gente só quer se livrar das obrigações para curtir as "férias".

Então, pra compensar, temos um mega pitaco. O post de hoje tem dois momentos. Isso não significa que eles precisam ser apreciados separadamente... E o tema de hoje é basicamente esse: a graça (?) da vida.

Da arte de fazer rir

Há uma semana encontrei uma brecha na minha agenda e fui assistir a apresentação de um trabalho de uma amiga que é atriz. A oficina consistia na criação livre dos palhaços pelos artistas e depois houve a tal apresentação, onde todos eles interagiam em esquetes, com pouquíssimas falas (era mais expressão corporal mesmo).


Olhando cada um, percebi que quase todos tinham aquele ar bobo mesmo, infantil. Sempre com um detalhe no nariz, sapatos chamativos (cláaaaassico), roupas bonitinhas, coloridas. Piadas batidas que ainda funcionam. Tombos, muitos tombos. Eu olhava pros lados e as pessoas riam, gargalhavam. E eu...


Tenho um problema sério para rir: quando encontro algo muito engraçado começo a rir descontroladamente; por horas fico lembrando da cena. Mas acabo de perceber que são coisas que não tem hora para acontecer, nem lugar. Já tive crises de riso com piadas muito estúpidas. Já assisti peças de teatro que são premiadas e, mesmo sentada na primeira fila (sério) eu não achei a menor graça. Já tive que sorrir só pra não ficar com fama de carrancuda. Enfim, dizem as pessoas que na maioria das vezes eu sou mesmo muito séria; inclusive no fim dos esquetes da escola de teatro minha amiga comentou rapidamente: “acho que você não gostou. Olhei pra você algumas vezes e você estava séria...” Fiquei sem graça.
 
Não tive tempo de dizer à ela que os personagens criados são muito normais, comuns. Variações de palhaços do tipo “Didi Mocó”, quase acrobatas. Nah...

O único palhaço que me chamou a atenção foi justamente o palhaço da minha amiga. Isso é fácil de se explicar: antes de começar a carreira de atriz, ela se formou em Assistente Social. Então, inevitavelmente, ela vai sempre dar um jeito de sair do lugar comum, e no caso dela, vai ter uma forte crítica social. O visual: predomínio do cinza na jaqueta (com colagens de papel de jornal); maquiagem escura e pesada. Aquele ar de “sempre com fome” (conhecem?). Atitude agressiva, quase um louco. O visual triste e melancólico me lembrou do Joker de Heath Ledger no último filme Batman (lembrei também de sua emblemática frase: “Why so serious?”). A atitude me lembrou um pouco o Comedian de Watchmen. Resumindo: um personagem pesado. Aqui, a graça não está em tombos, pistolas d’água ou no amor perdido. É muito mais do que isso.


Curiosamente a personagem da minha amiga foi a que menos teve um feedback positivo (os tais risos) da platéia infantilizada (e composta por adultos, detalhe...). 

Um trágico-cômico retrato de nosso futuro?

E, para fechar a semana, resolvi começar a assistir ao seriado “Men of a certain age”, de criação de Ray Romano, conhecido por aqui pelo sitcom da Sony “Everybody loves Raymond”. Na vida real, Ray é um comediante norte americano, até onde eu sei, é filho da comédia stand-up (aquela coisa “engraçadíssima” que ta virando moda por aqui). Fez dublagens pra um monte de filmes, é super conhecido.

E eis que me surge Men of a certain age. Pensei que fosse uma série zoando os homens que estão beirando os 50 anos.
Que nada.

Realmente é uma série sobre homens aos 50 anos. É tudo aquilo que a gente sempre sabe que pode acontecer, que nós sabemos que acontecem com os nossos pais, mas dessa vez podemos enxergar melhor porque estamos do lado de fora, e não há nada de piadas sobre isso.

Acreditem, é assustador.

Ray (que finalmente criou um personagem que difere de seus palhaços bobos) é Joe e tem outros dois melhores amigos igualmente coroas. Os três não são lá muito felizes profissionalmente: Joe tem uma loja de artigos de festas, Terry é ator, mas enquanto isso não acontece, trabalha em um escritório; e o Owen é vendedor de carros numa empresa comandada por seu pai (acredite: não há vantagem alguma nisso); e a vida pessoal também não é lá grandes coisas: o primeiro está se divorciando e tem dois filhos, além de ser viciado em jogo; o segundo é o pegador (“e...?”), o terceiro é casado, com três filhos para criar... Você conhece isso, certo?

Gostei muito da proposta da série, que estreou aqui na WBTV, mas é cria da TNT. (Ué, você achou que a NBC, ABC ou HBO comprariam essa idéia?). Aqui ela é vendida como uma série de comédia, mas o marketing foi super enganoso. Existem momentos leves, o que classifica essa nova empreitada de Ray Romano como um “dramacômico”, no máximo. Chamam por aí de o “Sex and the city masculino”, o que pra mim é um erro sem tamanho. A “obra prima” comercial da HBO gira em torno de mulheres bem sucedidas profissionalmente, que podem perder tempo pensando em sapatos e homens. Sim, nada mais justo, elas tem dinheiro de sobra (mesmo Carrie sendo a pobrezinha das quatro, ela sempre deu brincando U$$ 300 ou mais em um sapato em tempos pré-casamento-com-Mr.-Big). Mas em Men... nós vemos homens na escala mediana do que é aceitável socialmente, oscilando entre a mediocridade e o brilhantismo. E em uma sociedade machista e prepotente, isso é de arrasar qualquer um.

Então, como faço parte da geração dos filhos desses homens de uma certa idade, vendo isso do lado de fora, começo a tentar enxergar o caminho que estou trilhando. Agora, compartilhando as impressões dos dois primeiros episódios que vi ao lado de @joaorayol, nós, já nos aproximando dos 30 (assim como a balconista da cafeteria do seriado, que tem lá seus 25 anos, que na verdade é escritora) temos empregos ruins. Muitos de nós já tem filhos, são chefes de família, e tudo vai sendo levado aos trancos e barrancos, no improviso. Já temos crises de estresse, gastrites e úlceras... E o tempo vai passando.

E quando nos damos conta, os sonhos que tínhamos ficam cada vez mais distantes. E a gente vai se afogando, procurando alguns paliativos pra nos ajudar a suportar: a gente bebe pro tempo passar depressa, joga, come horrores, e compra, compra, compra...

Quando vemos uma série que, como entretenimento é bem desagradável (não me pergunte como ela conseguiu ser renovada), mas que nos mostra o ponto de vista de um possível futuro próximo, e nós conseguimos identificar esse futuro, é porque a coisa está braba mesmo. E, sinceramente, ainda bem que não é uma comédia do estilo torta na cara.
   

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