Dando pitacos!

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Metrópolis - 1ª parte



-Relaxa, que o filme é mudo. -Ué, então por quê você tá vendo? (Esse diálogo aconteceu na minha casa, enquanto eu assistia ao filme...) Não faz muito tempo que vi “Metrópolis” (1927) pela primeira vez. Íamos entrar no feriado da Semana Santa, e estávamos procurando filmes importantes que nunca vimos (eu tenho um projeto pessoal chamado “Clássicos que Nunca Vi”, destinado a ver os filmes que realmente temos que ver antes de morrer. E também àqueles filmes que todo mundo viu e sabe-se por qual razão eu não vi também), e recebemos a indicação na locadora. Como estou em uma fase de estudos sobre cinema também (lendo muito Bergson e Deleuze pra pós), achei que seria proveitoso. Encontramos “Metrópolis”. O primeiro filme de expressionismo alemão que vi foi “O Gabinete do Doutor Caligari”. Esse foi o máximo que eu tinha chegado do movimento no cinema até então. Ao ler a sinopse de “Metrópolis”, achei a proposta interessante, mas não conseguia imaginar um filme de cunho político com um “visual chamativo”. Achei que não combinava. Contudo, visualmente falando, o filme é um deleite. A maquiagem é super expressiva, os cenários são convincentes para uma história que se passa no século XXI. Inclusive, a robô da capa do DVD (e do pôster do filme também) entrou para a história. Mesmo havendo relatos de que filmar com aquele traje fosse uma tortura de tão desconfortável... Enfim, hoje (13 de abril de 2010) eu estava passeando pelos canais a cabo e dei de cara com o filme! Não pensei duas vezes em assistir novamente. A diferença da versão em DVD e a que passou no Telecine Cult é o idioma das legendas do filme. Vimos em inglês a primeira vez, a segunda em alemão (devidamente traduzidas para o português). Evidente que possuem diferenças de tradução... Também tem diferenças de edição. Sei que assistir esse filme por duas vezes e me atrever a fazer um resumo, ou resenha, é abuso de minha parte. Contudo, aproveito a oportunidade e deixo aqui minhas impressões mesmo assim. Prometo renová-las todas as vezes que assistir. Espero que saibam que tem spoilers...
“O mediador entre o cérebro e as mãos deve ser o coração.”
Prelúdio No século XXI conhecemos Freder, que era um cara que vivia feliz e contente no Jardim dos Prazeres. Ao mesmo tempo, no subsolo de Metrópolis, operários trabalham dia e noite para fazer a cidade andar (impressionados com a semelhança?). Uma bela e misteriosa mulher leva um bando de crianças pobres até a entrada do paraíso. Evidentemente que são “convidadas” a irem embora, mas a mulher permaneceu tempo suficiente para chamar a atenção de Freder. A partir daí, ele começa uma busca que certamente tem como ponto de partida a Cidade dos Operários. Ao mesmo tempo o público percebe que os operários não estão satisfeitos com a vida e as condições de trabalho (impressionados com a semelhança? [2]): mapas são trocados e é sugerido que exista alguma reação por vir. Um alto funcionário da cidade, Josaphat, é demitido por não ver as movimentações dos operários. Desesperado por conta da possibilidade de perder seu espaço na máquina perfeita que é essa cidade, pensa em se matar. Por sorte, encontra Freder, que o transforma em seu “assessor”. Josaphat então se compromete com o filho de seu ex patrão. Para que Freder possa encontrar sua amada, ele precisa passar despercebido pois ele é filho do homem mais importante de Metrópolis, Joh Fredersen! Então, troca de lugar com um operário e vai sentir na carne o que é colocar uma cidade para andar. É claro que toma um sacode... Ao mesmo tempo, acaba descobrindo sem querer o que significa aqueles mapas e encontra sua amada! É aí que acaba o momento “novela das oito” e a trama fica mais interessante. A moça se chama Maria e ela é uma pessoa importantíssima para os operários. Sua figura REALMENTE se assemelha à virgem católica. Sua atitude também. Sua posição é de liderança. Sempre serena, com aquele discurso “calma que a hora de vocês irá chegar! O mediador irá chegar para arrumar tudo!” E o povo lá, aguentando o dia a dia puxado, de 10 horas de trabalho ininterruptas. Nesse momento, chamo a atenção para todos os sinais religiosos que o filme expõe: Maria, em sua palestra, conta aos trabalhadores a história da Torre de Babel (livro do Gênesis), que tenta explicar a razão de haver raças e linguagens diferentes. Mas aqui creio que o significado seja mais político do que isso, em especial este trecho: 5 O Senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. 6 E o Senhor disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projetos. 7 Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros.» Como os trabalhadores não conseguem se comunicar com Joh Fredersen, e por isso não entram em acordo, a culpa seria da linguagem diferente... Outra possibilidade (que é a que eu acredito) seria considerar a organização espacial da cidade: os homens estão na parte mais baixa, “Deus” (Joh Fredersen), o homem que controla seus destinos, na parte mais alta. Deus não quer ser alcançado. Se usarmos essa segunda interpretação, que é bem mais cruel, o fim do filme será bem mais penoso...
Prosseguindo: enquanto isso, Joh Fredersen se encontra com uma figura sinistra: o cientista Rotwang, que tem a missão de criar uma mulher biônica, com os restos da mãe de Freder, Hal. Curiosos em relação aos mapas encontrados, realizam um trabalho de investigação e eles finalmente descobrem o que os operários fazem quando não estão trabalhando: encontram Maria. Evidentemente, Maria é a pessoa que eles querem para provocar um colapso entre os trabalhadores e acabar com qualquer possibilidade de motim. De cara percebemos que há uma inclinação pro final “levemente democrático” que me irritou. A mocinha fica “cozinhando” os trabalhadores, o que reforça a ideia de que sem reação, UM DIA, quem sabe, conseguimos a justiça. Humm... curioso.

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