Dando pitacos!

Porque todo mundo tem algo a dizer sobre tudo. Só não somos convidados sempre...
E a estrela Intrometida existe mesmo!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Literatura de cordel

Ganhei sexta feira passada vários livrinhos de um cordelista que fez uma palestra em uma das escolas em que trabalho. Aqui tem um exemplo do que eu li.

Pra conhecer melhor a literatura de cordel (e nem venha com essa cara de "eu já conheço" porque sabemos que é mais fácil achar Eça de Queiroz numa banca de jornal do que literatura de cordel...) faça uma visitinha ao site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Pra que vim ao mundo
(Moreira de Acopiara)

Nasci num lugar distante
Onde tudo era custoso,
Mas sempre achei importante
Ser simples e estudioso.
Por ter pouca condição
Minha primeira lição
Muito pouca gente leu,
Por ter pouco conteúdo.
Sou sonho que tinha tudo
Pra não dá certo, mas deu.

Só que não vim ser na estrada
Um errante tangerino
Ou companhia frustrada
Da sombra do meu destino.
Não vim fazer zum zum zum
Nem ser história comum
Nem vim pra levar rasteira.
Vim semear coisas boas,
Pra cativar as pessoas
E ter paz a vida inteira.

Aqui eu sei que não sou
Quase nada, na verdade,
Mas nesse caminho vou
Com certa tranquilidade,
Ciente já de que a vida
É uma batalha perdida,
E que no fim da jornada,
Por mais forte que sejamos,
Nós todos nos transformamos
Em carne podre e mais nada.

Por isso mesmo viver
Tranquilo é meu grande plano,
Pois aqui não quero ser
Fantasma de ser humano.
Se as coisas todas se somem
Eu quero aqui ser um homem
Que luta, que sonha, agrada
E que não se precipita.
Uma história bem escrita
Pra depois ser bem contada.

Quero que meu semelhante
Possa me amar e entender,
Não quero ser um gigante
Que um anão põe pra correr.
Não quero ser um refém
Dois mil caprichos de quem
Diz não ter nada com isso.
Eu não vim aborrecer
E muito menos pra ser
Um ídolo sem compromisso.

Eu não vim pra ser brinquedo
E nem pra causar revolta,
Pois já sei que tarde ou cedo
Farei viagem sem volta.
E não adianta por preço
Porque não há recomeço
Além do frio jazigo.
Vim ser simples, mas profundo,
Maravilhado com o mundo
E insatisfeito comigo.

Eu não vim aqui pra ser
Rei que não conhece o trono,
Muito menos pra morrer
Nas ruas do abandono.
Vim andar na direção 
Do bem, estender a mão,
E pra vencer tenho pressa.
Não vim semear a tristeza,
Destruir a natureza
Nem vim pra quebrar promessa.

Não vim pra por pé no bucho
E nem pra ser mão que assalta.
Vim pra ser nobre sem luxo,
Um grande que não se exalta.
Vim pra ser mão que liberta,
Cama quente, porta aberta,
Bons exemplos, peça rara;
Poeta provocador, 
Imortalizado por
Moreira de Acopiara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário